E você, caiu na “brincadeira” do #10yearschallenge?

Desafio: montagem de uma foto de 2009 com uma foto atual de 2019

 

Recentemente temos acompanhado em diversas redes sociais o divertido e “inofensivo” desafio dos dez anos. Será mesmo inofensivo?

Funciona assim, você procura lá nos seus registros uma foto de 2009, faz uma pequena montagem com uma foto atual de 2019 e publica nas redes sociais com a hastag #10yearschallenge.

Com isso, nós damos muitas risadas, comparamos um com o outro: “Olha aquela como envelheceu”, “Já viu o cabelo branco do Zé?” e aí vai. Mas na real o que muitos fazem mesmo é pegar uma foto muito ruim de dez anos atrás e uma foto muito boa de 2019 para demonstrar que eles melhoraram com o tempo, hehehe. Bom, a ideia deste post não é explorar a parte do “faz de conta” que as redes sociais possuem e sim o que há por trás dessa brincadeira.

Ainda hoje ouvi do meu colega Daniel que “quando você não paga por algo que está usando, quem está sendo usado é você”. Gostei e posso dizer o mesmo sobre o #10yearschallenge: você está sendo usado!!!

Calma, não se apavore! Na verdade é um uso, digamos assim, bom por um lado. Você está sendo usado para treinar computadores a reconhecer a evolução do seu rosto ao longo do tempo, neste caso, dos últimos 10 anos.

Deixa eu te explicar um pouco melhor, é assim: empresas como a Google, Facebook e Microsoft possuem laboratórios de pesquisa em Inteligência Artificial — IA de ponta e que estão envolvidos em diversos estudos sobre o comportamento das pessoas nas redes, suas características, entre outros.

Dentro da IA existe uma subárea chamada Machine Learning — ML na qual os computadores conseguem, por meio de algoritmos, aprender e posteriormente auxiliar na tomada de decisão. Basicamente você ensina ele a fazer algo, o treina — é assim que chamamos — , testa se ele aprendeu corretamente e depois usa essa nova capacidade do computador em seu favor.

Tá, mas como faz um computador aprender que eu sou eu pelo meu rosto? A resposta é: por diversos elementos em sua face, mas principalmente pela distância entre principais pontos como: orelhas, nariz, olhos,… Esses algoritmos são tão bons que conseguem diferir inclusive gêmeos idênticos.

Você pode estar se questionando: “Ah, mas isso aí é teoria da conspiração” e eu posso te afirmar que não. Eu como Cientista de Dados, tendo acesso a todo esse banco de dados de imagens é exatamente o que eu faria: iria utilizar todas essas imagens para treinar o meu algoritmo de reconhecimento de imagens para que pudesse compreender o padrão de evolução entre faces (rostos) em um período de 10 anos.

Quer provas né? Já sei… Então faz o seguinte: instala no seu celular o Google Photos, cria uma conta na Google se você não tiver ainda e depois sincroniza as fotos do seu celular, históricas e atuais com o Google Photos. Esse aplicativo (que tamém pode ser acessado pelo seu navegador via conta Google), tem um recurso fantástico: a busca de pessoas pelo seu rosto. É isso mesmo, você consegue até mesmo buscar por objetos nas imagens, basta digitar na barra de pesquisa: “carro”, “bicicleta”, “Florianópolis”, “França”, e aí vai…

Você consegue ainda cadastrar as pessoas e associar ao rosto. Depois é só buscar pelo nome que você associou a ela. É incrível! Ele consegue buscar fotos muito antigas e inclusive de crianças que ao longo dos anos vão mudando um pouco o formato do seu rosto.

Faça o teste, você vai ficar assustado em encontrar pessoas na sua lista que você nem imagina que aparecem nas suas fotos. Louco isso não? E pensando mais longe: já imaginou que assim como o rosto de estranhos aparece em seu celular, também o seu rosto aparece no celular de estranhos que estavam apenas lá na praia tirando uma sefie e você simplesmente passou atrás da câmera?

O mais interessante de tudo isso é que estamos tão preocupados com as brincadeiras bobas de WhatsApp / Facebook que não nos ligamos das reais intenções desses joguinhos na nossa própria privacidade. Sinisstrooo!!!

Deixa eu te dar um último exemplo de como você está sendo usado para treinar computadores a reconhecerem imagens. Veja essa autenticação abaixo, vai dizer que você nunca passou por tela similar?

Trata-se de uma forma de autenticação em sistemas (“aparentemente”). O site pede para você escolher dentre as imagens disponibilizadas, em quais delas você está vendo uma “estátuta”. Poderia ser um carro, uma placa de trânsito, um boi, sei lá… Além é lógico de certificar-se de que você não é um robô, ou seja, um agente de software, um programa que age sozinho e faz justiça pelas próprias mãos, ele também aprende com você que elementos estão dispostos nas imagens e aí vai ganhando em assertividade.

O lado bom de tudo isso é que muitos desses algoritmos vão nos ajudar, para o nosso próprio bem. Imagine uma câmera de segurança que detecta um foragido da lei passando na frente da sua casa, aciona os policiais e estes, preventivamente, conseguem evitar um furto. Bancana não é? Já existe isso tudo e graças a esses algoritmos de reconhecimento de imagens. Digo mais: mesmo se o foragido estiver com um boné e todo disfarçado, ainda assim o algoritmo vai apresentar um percentual de acerto daquela imagem. Portanto confie na tecnologia.

Não pense que os robôs vão nos substituir, pense que hoje você está fazendo um trabalho que é de um robô.

Dessa forma você acaba compreendendo que a medida que o tempo passa e a tecnologia evolui, deixaremos nossos esforços repetitivos para assumirmos funções ainda mais analíticas. Então, viva a tecnologia!!!

Fonte: Medium

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