Kim Phúc, símbolo da guerra do Vietnã, esteve na capital

A personagem da famosa foto do bombardeio emociona público durante palestra na Unisul

A fotografia de Nick Ut foi tirada em 8 de junho de 1972, completou 40 anos daquele massacre e violência durante a Guerra do Vietnã, que atingiu milhares de civis inocentes, entre eles a menina Kim Phuc, que sofreu ataque estadounidense em seu povoado Trang Bang.

 

Kim Phuc ficou mundialmente conhecida por esta foto que a mostra sem roupa que ficou toda queimada pela agressividade do bombardeio, e hoje, é embaixadora de boa vontade da UNESCO, percorrendo o mundo para levantar fundos a sua organização Kim Foundation, que ampara vítimas de guerras. Ela esteve realizando palestra na Unisul Pedra Branca, em Palhoça, no início do mês.

 

Os participantes da palestra acompanharam a viagem ao passado proporcionada por Kim quarenta anos depois do fato que a deixou com queimaduras de primeiro grau em mais de 50% do seu corpo, ela ainda sofre com as dores e precisou fazer enxerto em 35%. “Quando o tempo muda me sinto doente, as dores voltam. O segredo é não pensar na dor. As massagens e outras coisas me fazem esquecer dela. Caminhar, falar ao telefone ou escutar música são ótimos recursos”, revela.

 

Especificamente sobre o dia do ataque, ela disse que quando os soldados do Vietnã do Norte bateram na porta de sua casa, na vila Trang Bang, ela e outros se refugiaram em um templo. “Eu era uma criança muito feliz e ia de bicicleta para a escola. Vivia em uma casa boa com muitas árvores e animais. Me sentia amada e protegida antes da guerra e não tinha medo de nada”.

 

Ela relatou que enquanto corria no meio da fumaça, sua roupa sumia enquanto seu corpo pegava fogo. “Essa bomba, a de Napalm (bomba produzida a base de gasolina gelatinizada), queima em altas temperaturas pela mistura com a gasolina”.


Ela foi salva por um jornalista britânico que jogou água em seu corpo. Ela foi levada para um hospital pelo fotógrafo vietnamita Nick Ut, que eternizou aquele momento com a foto que já deu a volto no mundo. Na manhã seguinte ao dia 8 de junho de 1972, todo mundo viu a foto, e segundo Kim, as pessoas mudaram o modo de perceber a guerra. “Meus pais me encontraram três dias depois. Fui transferida para um hospital em Saigon (desde 1975 Ho Chi Minh) e sobrevivi”, ela descontraiu dizendo que é um milagre estar no Brasil.

Foram 14 meses e 17 cirurgias. “Nós devemos aprender com as nossas experiências, pois ficamos mais fortes. Rezo muito, isso me ajuda e me ensina uma lição: a importância do amor. Ela também fala da compaixão dos médicos, enfermeiros, amigos e familiares. Sentia muita dor, meus irmãos e primos cuidavam de mim e me massageavam para aliviar a dor”.

Quando saiu do hospital, voltou para a escola com o objetivo de ser médica. Dez anos depois, aos 19, ingressou no curso de Medicina. “Mas foi por um curto período. O governo vietnamita me transformou em um símbolo da guerra. No meu país não éramos livres para fazer nossas escolhas. Pedi para um ministro algum tempo depois para voltar a estudar e fui enviada para a Universidade de Havana, em Cuba”. Como não falava espanhol iniciou os estudos de inglês e espanhol para graduar-se em Letras.

Em 1982, ela comprou o Novo Testamento em uma livraria. “Encontrei o propósito da minha vida”. Outra lição que afirma ter apreendido foi a da importância da liberdade. “E a maior delas é aprender a perdoar quem te fez sofrer”. Contudo, ela diz que perdoar não é esquecer. Em 1996, reencontrou o piloto do bombardeiro John Plummer, e o perdoou em frente das câmeras. “Depois de perdoar o Jonh nos tornamos grande amigos”.


Seu objetivo hoje é ajudar crianças vítimas de Guerra e pede contribuições para seus projetos no Kênia, Uganda e Afeganistão. “Minha missão é levar a paz, o perdão e mostrar o horror da guerra para o mundo. Você pode perder tudo, mas se tiver o amor da família você recupera tudo”. Outra frase foi dita para sua mãe certa vez. “Sabe aquela menininha da foto mãe, ela não corre mais, hoje ela voa”. Também disse que a fé e o poder do amor são mais fortes do que a bomba de Napalm.

 

Emoção dos acadêmicos

Thais Lins, da primeira fase de Medicina, se emocionou várias vezes. “Achei muito interessante porque pensava que nunca vivenciaria isso. Fiquei fascinada, chorei com o depoimento dela, com o vídeo que ela passou sobre Uganda e isso só me faz querer fazer mais parte da Medicina e ajudar os outros”, declara.

 

Cris Costa, internacionalista, até tentou falar ao microfone, mas a emoção não permitiu. “Queria ter dito para ela que desejo toda a felicidade do mundo porque ela merece e é linda”.

 

O presidente do Centro Acadêmico Dr. Murilo Capella, Layo Oliveira, do curso de Medicina, considerou a experiência maravilhosa. “Com uma pessoa como ela, que passou por tudo isso, a gente pode perceber que o paciente realmente sente e que ele tem força para reverter o quadro e se tornar o que ela se tornou. Uma pessoa que leva este amor para outras pessoas e ajuda muita gente”.

 

Com informações Cilene Macedo – Assessoria Unisul

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