Vidas que mudam por meio da educação: Airam Barbosa de Moura

Ex acadêmico Unesc passa da graduação para mestrado

Quando Airam Barbosa de Moura, de 24 anos, saiu da Ilha de Mocooca, no Pará, para poder dar continuidade aos estudos do Ensino Fundamental, não imaginava o que a vida lhe traria, mas tinha uma única certeza: não pararia até conseguir alcançar seus objetivos. A história do egresso do curso de Biomedicina traz episódios repletos de desafios e dificuldades, mas também é cheia de conquistas, como a saída da graduação direto para o doutorado e o reencontro com a família, que depois de anos vivendo há mais de 3,5 mil quilômetros de distância, voltou a morar junto. E nessa história, a Unesc ocupa um capítulo muito especial.

Nascido em Ananindeua, no Pará, Airam passou a infância na pequena Ilha de Mocooca, no mesmo estado – atualmente a área foi tomada pelo mar. “O transporte na Ilha era apenas de cavalo e carroça ou canoa. Não tinha energia elétrica nem posto de saúde. Se a gente quisesse ter atendimento, tinha que caminhar cerca de 1h30 para chegar em uma outra aldeia. Lá haviam pessoas da própria localidade que aprenderam a cuidar de ferimentos e fazer sutura”, conta.

Descendente de índios e europeus, ele estudou em uma escola que oferecia até o quarto ano do Ensino Fundamental. Mas ele queria ir além. “A minha diferença de outras pessoas da aldeia é que eu tinha vontade de estudar e conhecer coisas novas. Quando eu terminei a quarta série falei com a minha mãe que queria continuar a estudar. Eu era muito curioso e queria conhecer aquilo que via nos livros”. Para atender ao desejo de Airam, a família mudou para a capital paraense. Lá, ele terminou o Ensino Fundamental e conseguiu uma bolsa de estudos para fazer o Ensino Médio em uma escola particular da cidade.

Ingressou pelo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) na Universidade Federal do Amazonas e deixou Belém para morar em Manaus com uma tia. Cursou um ano da faculdade de Química e lá conheceu a iniciação científica: foi selecionado no programa da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Jovens Talentos para a Ciência.

Mas longo desse um ano de estudos, Airam sentiu falta de aprofundar o conhecimento na área da saúde. Foi então que pesquisou na internet cursos que fossem da área da saúde e tivessem pesquisa relacionada. Se interessou por Biomedicina e voltou para o Pará para estudar. Fez um semestre de Biomedicina na Faculdade Metropolitana da Amazônia, mas sentia falta da pesquisa e de aulas práticas. Então, no fim de 2014, recorreu novamente à internet para procurar uma instituição de ensino com o curso de Biomedicina e com boa estrutura de pesquisa. Encontrou a Unesc. “Vi uma chamada sobre a Unesc ser a primeira instituição não estatal de Santa Catarina em pesquisa e pensei: é para lá que eu vou”.

Foi então que os caminhos de Airam e da Unesc começaram a se cruzar. “Liguei para a Universidade e expliquei que queria fazer Biomedicina. A atendente disse que eu poderia pedir transferência até o dia 5 de fevereiro. E isso já era 2 de fevereiro. Peguei minhas economias e comprei a passagem para o dia 3. Gastei quase todo o dinheiro. Vi nos classificados do site da Unesc que uma senhora estava alugando um quarto. Entrei em contato com várias pessoas explicando a situação, mas não consegui arrumar um lugar. Foi então que eu liguei para a dona Zulma, que aceitou que eu depositasse o que eu pudesse e me recebeu de braços abertos. Ela foi um anjo que apareceu na minha vida. Durante todo o tempo, ela me tratou como um filho e a gente se ajudava no que podia. Ela conseguia trabalhos temporários em casas para mim e assim eu ia ganhando um dinheirinho”, relembra.

Depois de quase 24 horas para chegar em Criciúma, foi procurar a Unesc e a Centac (Central de Atendimento ao Acadêmico) e conseguiu fazer a solicitação. O resultado saiu dia 21 de fevereiro. “Saí da Unesc preocupado, porque se não passasse, não tinha como voltar para o Pará. Já tinha gasto tudo”. Airam conseguiu a transferência e estudou com bolsa. Enquanto a mãe ajudava com o aluguel, ele trabalhava como garçom de festas infantis, cuidando de crianças e formatando trabalhos acadêmicos.

Ao longo da graduação, Airam recebeu ajuda de professores e colegas do curso de Biomedicina e também do Laboratório de Psiquiatria Translacional nas dificuldades que enfrentou, especialmente no inverno. Por ser do Norte do país, Airam não estava preparado para o frio do Sul. “O pessoal do laboratório é como uma família para mim. Quando eu fiquei doente, uma das doutorandas me levou para a casa dela e cuidou de mim. Quando eu quebrei o pé também tive o apoio de muita gente”, conta.

Na Unesc, Airam também descobriu o talento para as artes e atualmente, é integrante da Cia de Dança. “A dona Zulma, as colegas do laboratório e as professoras, o pessoal da Biomedicina, a coreógrafa da Cia de Dança, Viviane Candiotto, a professora Josiane Budni, a minha orientadora, Gislaine Zilli. Tive várias mães e anjos em Criciúma. Se não fosse a ajuda de todos que conheci e da Unesc, não teria conseguido fazer curso superior”.

Da graduação para o doutorado

Airam encerrou o curso de Biomedicina em 2018 e no primeiro semestre de 2019 já era aluno do PPGCS (Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde). “Durante toda a graduação trabalhei no Laboratório de Psiquiatria Translacional e nesse tempo, fiz várias publicações e quando fui para a seleção do doutorado, já tinha 12 artigos científicos publicados, na maioria em revistas A. Eu tive os requisitos necessários para pular o mestrado e ir para o doutorado”. Ele continua na mesma linha de pesquisa da época do curso superior, depressão, e pensa em fazer um doutorado sanduíche.

Quando ele passou na seleção do doutorado com bolsa, conversou com a mãe e ela decidiu vir morar em Criciúma e trazer a irmã de Airam. “Minha mãe abriu mão de muita coisa para me ajudar a realizar um sonho. Aqui em Criciúma ela já está trabalhando com carteira assinada e a minha irmã de dez anos conseguiu uma bolsa para estudar no Colégio Unesc. Hoje está tendo uma oportunidade que eu não tive quando tinha a idade dela e fico feliz em poder ajudar com isso. Mais uma vez a Universidade está mudando a nossa vida”.

E se você perguntar a Airam se faria tudo novamente, a resposta será um sonoro sim. “Valeu muito a pena porque a oportunidade que eu tive aqui, nunca teria tido no local que eu estava. Sentia que precisava dar um passo grande e fazer muito diferente do que as outras pessoas estavam fazendo. No começo parecia loucura sair daquela aldeia pequena onde o estudo só ia até a quarta série e vir parar tão longe, quase no final do Brasil. Mas depois foi vitória, com muita luta. Consegui tudo o que eu queria, tanto na dança quanto na pesquisa e nos estudos. Mas eu não teria conseguido nada disso sozinho”.

 

Milena Nandi – Assessoria de Imprensa, Comunicação e Marketing

Fonte: AICOM - Assessoria de Imprensa, Comunicação e Marketing

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