Entenda o que é mito ou verdade sobre o glúten

A retirada de produtos à base de farinhas pode levar à deficiência de fibras e outros nutrientes

A Isabela, marca de massas, biscoitos e torradas pertencente a M. Dias Branco, convidou a nutricionista Lívia Artico, da consultoria Equilibrium, para explicar sobre uma proteína que sempre esteve presente em nossas mesas ao longo da história, mas que agora tem sido apontada erroneamente como “vilã”. “Só precisa tirar o glúten da mesa quem tem intolerância a este nutriente”, diz Lívia.

“De tempos em tempos os “vilões” da alimentação saudável mudam de nome. Um mito atual são as dietas glúten-free para pessoas que não tenham indicação para isso. A retirada desse componente não faz diferença na saúde de pessoas saudáveis e pode trazer certos riscos, principalmente quando feita sem orientação”, ressalta a nutricionista.

Mas, afinal, o que é o Glúten? Trata-se de uma proteína formado por uma fração de gliadina e uma de glutenina. Esta proteína é encontrada naturalmente em alguns cereais como trigo, centeio, cevada e aveia. “A aveia não tem glúten, mas, no processo de produção e armazenamento, caso haja o plantio dos outros cereais por perto, acaba apresentando traços do nutriente”, explica Lívia.

Algumas condições de saúde impõem a necessidade da retirada do glúten da dieta. O principal exemplo é a doença celíaca, uma condição autoimune em que glúten é reconhecido como uma ameaça e ocorre lesão damucosa intestinal, má absorção de nutrientes, diarreia, gases e déficit de crescimento em crianças. Estima-se que no máximo 1% da população sofra de doença celíaca.  

“Atualmente existe uma discussão se o glúten deveria ser retirado em outras situações, como na sensibilidade não celíaca, condição em que não há comprovação da doença celíaca por exames, mas a pessoa sente alguns sintomas desagradáveis ao consumir alimentos ricos em glúten. Estudos têm sido feitos para elucidar essa questão, mas até o momento não há nenhuma diretriz oficial nesse sentido. Portanto a restrição de glúten não é recomendada para população geral e pode trazer consequências, como restrição de nutrientes”, afirma Lívia.

Por outro lado, retirar pães, massas e outros alimentos à base de farinhas da dieta pode levar a deficiências nutricionais. Um estudo de revisão de 2016 publicado na revista Clinical Nutrition mostrou que dietas sem glúten em geral são pobres em fibras por conta da exclusão dos grãos, vitamina D, vitamina B12, ácido fólico e minerais como ferro, zinco, magnésio e cálcio. “Também foi verificado um aumento do consumo de gorduras saturadas e hidrogenadas e carboidrato de alto índice glicêmico, pois os principais substitutos dafarinha de trigo como a tapioca, farinha de arroz e polvilho possuem alta carga e índice glicêmico e são pobres em fibras”, ensina a profissional.

Algumas pessoas relatam sentir melhoras na saúde e perda de peso ao cortar alimentos ricos em glúten. Nesse caso provavelmente o benefício se dá pela retirada do excesso de carboidratos em geral e normalmente outras mudanças como acrescentar mais vegetais, frutas, reduzir açúcar, por exemplo, e não pelo glúten.

“Essas mudanças são bem-vindas, podem e devem ser feitas mas, não é necessário excluir grupos alimentares para isso. E, caso uma restrição seja necessária faça com acompanhamento de um nutricionista”, finaliza Lívia Artico.

Referência do estudo:

Vici GBelli LBiondi MPolzonetti V. Gluten free diet and nutrient deficiencies: A review. Clin Nutr. 2016 Dec;35(6):1236-1241.

Release: Bianca Perez / Press à porter

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