Vera Maria Walter Luz

Uma vida em prol da música clássica

Conhecimento e uma distinta educação foi o legado deixado pela professora Elvira Walter a sua filha, Vera Maria Walter Luz, que herdou a dádiva de continuar a linhagem familiar iniciada pelo avô, (o maestro espanhol Carlos Villalva) e se tornar a terceira geração de musicistas da família.

 

Foram várias as razões para que Vera sucedesse tal posto na família, mas uma em particular a pré-sucedeu ao mundo da melodia instrumental. Seu pai, Orlando Walter, dedicou uma serenata a filha assim que a mesma veio ao mundo, ainda na maternidade hospitalar.

 

De uma família com fortes tradições musicais, descendente de alemães, população europeia fortemente contribuinte ao mundo musical desde os primórdios da Idade Média, Vera mostrou-se uma menina prodígio.

 

Apenas cinco anos de vida, e ela já se dedicava a seguir os passos de suas referências, a pianista brasileira Yara Bernet e a sua própria mãe, Elvira. Cercada de cultura erudita (música clássica), escutava diariamente as peças dos ícones de tal estilo, como Fréderic Chopin, Franz Schubert, Mozart e Beethoven. Aprendeu desde muito cedo as primeiras notas ao piano com sua mãe, mulher que dominava brilhantemente seis tipos de instrumentos, o que levou a torná-la a precursora da 1º Escola Musical de Araranguá, no ano de 1962, onde Vera estudou e lecionou. “Nem sempre minha mãe tinha quem pudesse cuidar de mim, então, ela me levava junto à escola e eu ficava sentada no chão, durante a aula dela”, conta a professora Vera sobre a sua relação precoce com a música clássica.

 

Antes da família Walter partir de Caxias do Sul (RS) para a Cidade das Avenidas, Vera fez sua estreia na música no já extinto Cine Guarani, em Vacaria. Ainda muito pequena, contou sorrindo, que foi preciso uma cadeira para ela alcançar o microfone. “Fui com os meus pais neste teatro para o aniversário de uma rádio local. Acabei indo parar no camarim junto com os artistas, pois desejava muito tocar com eles”, relembra.

 

Já com seus 10 anos, outra surpresa da genialidade de Vera. Ao fazer o exame de aprovação para o Conservatório de Música Mozart em Porto Alegre (RS), optou por interpretar em um piano de cauda a Rapsódia húngara número 2 de Franz Liszt, a qual possuía um grau de dificuldade muito avançado para a sua idade, impressionando a banca avaliadora, que a classificou com êxito para o quinto ano do Conservatório.

 

Sua relação desde a infância com o registro vocal e instrumental a faz considerar isso um passatempo, uma paixão pela qual dedica, desde pequena, a maioria dos dias de sua vida. Durante nossa conversa, a professora, que teve sob sua tutela a preparação de alguns brilhantes nomes de Araranguá na música, como os pianistas Giuliano Proença e Juliano Alves, que seguem suas carreiras no mundo musical, e Vitor Medeiros Costa, em preparação para o vestibular, apresentou-se em muitos recitais, foi contratada para tocar em hotéis e restaurantes, atuou como regente de corais infantis e municipais, e continua firme e forte nesse caminho que desenhou até os dias de hoje, ministrando aulas de piano e teclado em sua própria residência, mas sente que a música erudita já não tem a mesma propagação com o passar dos anos: “vejo muita diferença no valor repassado ao aprendizado musical. No passado, as famílias consideravam os estudos e a cultura desta arte como um complemento na educação de seus filhos. Hoje em dia, apenas os jovens que se identificam com a música clássica são estimulados pelos pais’’, afirma Vera. “Deveria haver mais incentivo, tanto do governo, quanto da família porque as vantagens de aprender piano, teclado, ou ter qualquer outra habilidade musical são tão importantes para a vida das pessoas, como a melhoria na socialização, maior autocontrole, e também a virtude do autoconhecimento’’, complementa.

 

A inusitada ‘trilha sonora’ que embala a vida de Vera desde o ventre de sua mãe, promete continuar com seus acordes por muito tempo. Sem previsão de aposentadoria, a pianista araranguaense é motivada pelos suaves toques, os sons e as canções interpretadas por seus magistrais alunos, os autênticos sucessores de sua arte.

  

Por Elisa Gabriela Slovinski – da Sul Fashion

*Uma publicação da ed.42º da Revista Sul Fashion (de fevereiro/13). 

Veja também